sexta-feira, 25 de setembro de 2009

primeiro corte

Bom, o primeiro corte do INVERNO está fechado. Ainda falta gravar a voz do personagem do marido ao telefone, mas só isso. O Pedro já começou a outra parte do trabalho que ele curte fazer: marcação de luz no Color. E aí, depois disso, é só definir o corte e cair em cima da edição de som.

Uma coisa que está me preocupando é a duração do curta até agora: quase 15 minutos. E olha que ainda não inserimos os créditos de abertura e de encerramento. A minutagem que fiz antes de rodar tinha marcado aproximadamente 12.

Bom, ao assistir esse primeiro corte, a impressão que tive é a de que não seria boa idéia diminuir o tempo dos planos.
Parte da proposta da coisa é investigar a situação de ANA de forma bastante naturalista e evitar que os acontecimentos ao longo da trama se tornem chamarizes para si mesmos. E, ao determinar o tempo de um plano e fazer com que ele dure o suficiente para atender somente aos beats dramáticos, eu estaria favorecendo essa leitura.

Portanto, os acontecimentos existem, estão lá, mas tento estimular a percepção de que esses elementos têm um peso de importância equivalente a outros - como ao tempo, por exemplo - na hora de fazer a personagem e o enredo avançar.

Há ponto de virada, clímax e desfecho no enredo?
Eu sei que é um tanto suspeito, mas eu vejo tudo isso.
Mas sei também que eles não são do tipo que algumas convenções sugerem, que permitiria que, sem muita dificuldade, a gente detectasse a marca que se forma na passagem de uma fatia do enredo - que atende a uma função específica (apresentação dos personagens, apresentação do conflito etc) - para outro - que atende a outra (ponto de virada, desfecho etc).

Um aspecto interessante que pode ser dito é que, como forma de complementar essa proposta, a câmera do curta pretende contar. Mais do que através do que ela registra: pela forma como a faz. Me explico, já que esse é um conceito um tanto óbvio e para que não fique a impressão de que fiz uso de enquadramentos requintados e mirabolantes, com movimentos que mais parecem querer vender o diretor do que atender às necessidades do enredo.

A câmera do curta é uma câmera que investiga discretamente, que se mostra viva, quente e presente diante de uma relação delicada de solidão e frieza. O conceito usado pra definir essa opção – a de uma câmera na mão, “viva” – é basicamente o de tentar construir algo que, através da racionalidade ou sensoriedade, podesse sugerir ao espectador a percepção de estar assistindo a tudo que se passa mediante o ponto de vista de um terceiro (pensei em colocar 'quarto', já que 'o terceiro' sou eu mesmo, o diretor. enfim). Mas esse 'terceiro' a que me refiro é mais como uma sensação de que realmente há alguém ali - uma presença física no ambiente da encenação e, de certa forma, fazendo parte dela - acompanhando a personagem. No entanto, como o desenvolvimento das cenas evidencia o estado de solidão em que essa personagem se encontra, fica a outra sugestão: a de que, por fim, a solidão se estabeleceu e adquiriu corpo. E é esse corpo quem cumpre a função da presença.
Pra definir mais genericamente, seria como dar o nome de “a câmera subjetiva da solidão”, ou, "a presença da ausência".

Enfim, essas idéias e conceitos, assim, de forma escrita, podem parecer bastante pretensiosas, mas a coisa é mais simples, na verdade.

Amanhã tem almoço com a equipe e exibição do primeiro corte na Metrópole. Espero que o encontro renda.

Festival do Rio bombando, mas prometo voltar logo com algumas fotos de still.

Mikael Santiago

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