quarta-feira, 29 de julho de 2009

leitura com Giselle

Ontem conheci e fizemos a primeira leitura com a atriz Giselle Lima, a mulher que interpretará ANA no INVERNO. Estávamos eu, Morotó, Mari e Elisa (o novo reforço da equipe de produção).

A Giselle atuou no recente curta do Godoi e eu pedi pra ver o teste de elenco dela e algumas cenas do curta ainda em fase de montagem. Gostei do que vi e convidei ela pra essa leitura.

Comecei perguntando quais foram as impressões que ela teve ao ler o roteiro e, pra descontrair, pedi pra ela pular a parte da puxação de saco. Enquanto ela falava, uma coisa que disse me chamou atenção; foi algo mais ou menos assim: "apesar de eu não ter a mínima vontade de ser mãe"...
Entendi que ali havia algo que podia ser desenvolvido e exercitado para uma aproximação maior entre a Giselle e a personagem, e que, como o Morotó bem observou, ainda poderíamos usar um pouco dessa "não vontade" dela a nosso favor, já que a personagem ANA é uma mãe de primeira viagem que, talvez pela ausência do marido, se mostra um pouco temerosa em relação a gestação.

Bom, aí começamos a leitura. A Mari lia as ações, o Morotó "fazia" os outros personagens, a Giselle interpretava sua parte e eu observava. Nossa, como é bom ver um personagem seu ganhar vida bem na sua frente; dizer, como se pertencesse a mais pura realidade, coisas que você escreveu.

A Giselle definiu bem a personagem: "ela é serena", e eu acrescentei: "e ela é independente, assumidamente só". Era essa a combinação que via enquanto obervava Giselle.

É claro que, numa primeira leitura, nem tudo sai exatamente como imaginamos, e, interpretando, o ator depende da relação que há entre seu personagem e os outros, ou na sua relação com o ambiente, cenário, enfim - vai sempre depender da proposta do projeto -, mas o fato é que me parece que o ator alimenta seu personagem através da relação que há entre ele e os outros elementos que compõem e fazem parte da narrativa, sejam eles quais forem.

Talvez por isso a Giselle não tenha ficado tão à vontade na passagem de uma das cenas mais importantes do roteiro. O Morotó não é ator, por isso ele não pôde oferecer o que a Giselle precisava no diálogo entre ANA e seu MARIDO: interpretação e reação dramática.
É como falei, um ator precisa da relação entre seu personagem e um outro elemento pra se manter firme dentro de um universo ficcional. No caso de um diálogo entre dois personagens - e era exatamente esse o caso -, o ator precisa da ação/reação do outro pra dosar a carga de sua ação/reação, numa relação onde a complementação dita o ritmo e a intensidade da coisa. Porém, o que aconteceu não foi isso: a Giselle dava seu texto com a intenção dramática que achava conveniente e o Morotó, por não ser ator e por precisar ler o roteiro para acompanhar a cena e pegar sua "deixa", recebia isso apenas como texto, e, como não podia oferecer nada além disso, ele simplesmente respondia lendo o diálogo de forma seca e dura. A Giselle, por sua vez, ao receber o texto lido como reação, não conseguia estabelecer essa relação de sustento, e teve que buscar força não sei de onde pra fazer sua personagem resistir e trazer a coisa novamente para o drama. E lá estávamos nós no meio dessa guerra curiosa e agoniante entre ator e não ator que durou até o fim da sequência.

É claro que não culpo o Morotó, pelo contrário, eu o agradeço: assim, conseguimos identificar que a Giselle, além de sincera - já que ela podia ter "atuado" desde o início dizendo que não vê a hora de ser mãe e tudo mais -, é talentosa.

Uma curiosidade: lá pelas tantas, a Giselle disse que só não come três coisas - abacaxi, panetone e azeitona. Logo azeitona, pô?! No roteiro há uma cena em que a personagem come azeitonas enquanto assiste TV, e eu gosto da idéia de serem azeitonas! Enfim, ainda não sei o que faremos...

Pra finalizar, eu pedi pra ela dizer o que achava da sequência final - queria saber o que aquela encenação lhe dizia, se é que dizia alguma coisa. E ainda bem que o Morotó me soprou horas antes que eu devia perguntar isso antes de eu mesmo dizer os significados que encontro, por que aí, se eu tivesse dito, eu teria perdido a chance de constatar que a leitura dela era, genuinamente, exatamente como a minha. Só faltou o making of registrar.

Mikael Santiago

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